sábado, 14 de dezembro de 2013

Ao Tribunal de Justiça Divina

I – DOS FACTOS.
1.º
A Autora e o Réu conheceram-se em Setembro 2010.

2.º
Nos primeiros tempos, a Autora sentiu-se relutante em assumir qualquer tipo de atracção ou sentimento pelo Réu.

3.º
Contudo, após semanas de persistência quase obsessiva, o Réu convenceu a Autora de que era a pessoa certa para a fazer feliz.

4.º
Assim, em Fevereiro de 2011 as partes assumiram uma relação.

5.º
Durante os meses que se seguiram, a Autora, consciente de que com o tempo se apaixonara perdidamente pelo Réu, fez tudo para que a relação prosseguisse sem grandes altercações.

Pelo que,

6.º
A Autora perdoou as inúmeras vezes em que foi ignorada, maltratada, humilhada e mal amada.

7.º
A Autora desculpou todas as vezes em que não lhe foi dado o devido valor.

8.º
A Autora apoiou o Réu durante todas as suas crises existenciais,

9.º
Não obstante a entrega total da Autora ao Réu e à relação de ambos, passados os tempos da conquista o Réu deixou de valorizar a Autora,

10.º
Com tal mudança de atitude, a Autora começou a questionar a sua relação e, pior que tudo, o seu valor.

11.º
 Se por um lado tinha juras eternas de amor, por outro tinha distanciamento.

12.º
Se por um lado fazia parte dos planos de vida do Réu, por outro era ignorada como se nela não existisse.

13.º
A sistemática incoerência nas atitudes do Réu levou a que várias vezes a Autora desconfiasse da sua fidelidade.

14.º
Porém, sempre que expressava as suas suposições, o Réu demonstrava-se profundamente ofendido e até magoado.

15.º
Pelo que a Autora, arrependida de não confiar na palavra da pessoa com quem já tanto tinha vivido, pedia desculpas.

16.º
Em Dezembro de 2012, com o objectivo de surpreender o Réu, a Autora deslocou-se em segredo à casa do mesmo.

17.º
Qual não é o seu espanto quando, após conseguir entrar no prédio do Réu e estar prestes a chegar ao respectivo andar, a Autora ouviu a porta da casa do Réu abrir-se.

18.º
Estranhando a movimentação pela hora, a Autora decidiu manter-se à escuta.

19.º
Qual não foi o seu espanto quanto ouviu a voz do Réu seguida de uma voz feminina.

20.º
A surpresa aumentou quando, após uma conversa apaixonada, a Autora ouviu ruídos de movimento, entre os quais, beijos.

21.º
Foi aí que o mundo da Autora caiu.

22.º
Após o “incidente” descrito supra, a Autora entrou em período pré-depressivo.

23.º
A Autora não comia.

24.º
Não dormia.

25.º
Não ria.

26.º
Deixou de se conseguir concentrar no trabalho.

27.º
Na realidade, deixou de se conseguir concentrar no que quer que fosse.

28.º
A Autora ficou profundamente afectada com todas as sacanagens que o Réu lhe fez,

29.º
E o facto de o Réu lhe ter chateado os cornos com inúmeros pedidos de desculpa nas semanas seguintes, levou a que a tristeza se alojasse ainda mais dentro de si.


II - DO DIREITO
30.º
O Artigo 23.º do Código de Deontologia da Pessoa Humana dispõe que “o ser humano deve agir com rectidão, abstendo-se de magoar gratuitamente outrém e, assim, foder-lhe o juízo”.

31.º
Ora, o comportamento, já descrito, que o Réu teve ao longo da relação com a Autora, demonstra que o mesmo violou deliberada e reiteradamente este artigo.

32.º
Sendo certo que o Réu violou ainda alguns dos mais importantes e elementares princípios de Direito, nomeadamente o princípio da Dignidade da Pessoa Humana.

33.º
Pelo que deverá ser condenado em multa pelos danos morais provocados à Autora.

34.º
Mais, com a prática dos actos descritos nos artigos 17.º a 21.º desta Petição Inicial, o Réu violou ainda o artigo 27.º do mesmo Código, o qual dispõe que “o ser humano nunca se deve comportar como um grandessíssimo filho da puta, sob pena de condenação em multa à escolha do lesado”.

Termos em que, requer a V/ Exa. Seja a presente acção julgada procedente por provada e, em consequência:
I - Seja o Réu condenado em 20 anos de mau (horrível) sexo;
II – Seja o Réu condenado a indemnizar a Autora em quantia não inferior a € 20.000, por danos morais.


A Mandatária
Agulha



Notinha: Este texto resulta de uma observação sociológica intensiva aliada a sessões de cusquices das boas. Não é auto-biográfico. Mas, minhas amigas, lamento dizer, pelo que tenho visto é coisinha capaz de calhar a qualquer uma de nós. 

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